sexta-feira, 20 de março de 2009

remistura

no final dos anos 70, uns djs invocados de novayork começaram uma brincadeira que talvez não tivessem noção de onde ia dar.
o back to back consisitia em tocar um trecho instrumental de um vinil e, assim que o(s) compasso(s) se fechasse(m), soltar exatamente a mesma parte, do começo, em um outro vinil igual, criando assim um loop que duraria o quanto a vontade e a habilidade do dj deixassem.
não por acaso o aparelho tecnológico que possibilitava essa manobra - além é claro dos dois tocadiscos - chamava-se mixer.
um misturador, que a princípio foi inventado para suprimir a pausa entre uma música e outra enquanto o dj trocava o disco. assim a discotecagem seria muito mais fluída e a dança nonstop.
quando caras como kool herc, grandmaster flash e afrika bambaataa sacaram que não precisavam esperar a música acabar pra passar o crossfade pro outro lado, deram início a um processo irreversível que hoje é denominado como cultura do remix.
logo, produtores antenados começaram a produzir versões destinadas à nova maneira de tocar desses djs e aquilo que eles faziam "na unha" e ao vivo passou a ser feito em estúdio.
com o advento do sampler, o processo ganhou um aliado poderoso. agora podia-se remixar não apenas um ou dois, mas vários trechos de músicas diferentes para criar uma nova. na mão de grupos como de la soul, public enemy, nwa e de produtores da nova música eletrônica o instrumento ganhava status de imprescíndivel, tal como a guitarra para o rock.
a revolução causada por essa nova maneira de se fazer música não foi pequena. agora a música não era mais feita a partir de sua estrutura mínima, a nota musical, e sim a partir de trechos de outras músicas ou gravações que eram recombinadas para dar origem a uma nova obra, híbrida, que guardava semelhanças com os elementos originais, mas que definitivamente soava como algo novo, diferente e único.
isso fundiu a cabeça de muita gente, bem mais do que quando os tropicalistas inventaram de botar guitarra na mpb. acusações de que aquilo não passava de mero plágio ecoam até os dias de hoje e estão na origem da grande polêmica sobre direitos autorais que estamos vivendo. estamos cansados de ouvir falar de artistas que "não deixam" samplear suas músicas ou "exijem" quantias absurdas de dinheiro para liberará-las. as aspas acima não são à toa. hoje em dia todo mundo sabe que "não deixar" samplear uma música é tão eficaz quanto tentar impedir o download e a troca de arquivos na internet.
mas bem antes do aparecimento da grande rede, o remix, iniciado lá atrás nos back to backs, já havia evoluído muito e alçado djs ao estrelato, ganhando fortunas para rearranjar as músicas de outros artistas. com a popularização dos programas de audio, cada vez mais gente se aventurava na tarefa de modificar canções de outros. mas ainda havia mais por vir.
a cultura do remix, já bem estabelecida, deu um novo salto com o surgimento da web e o advento de um novo tipo específico de remix: o mashup. inicialmente chamado de bastard pop, o mashup consistia em pegar duas ou mais músicas existentes e misturar uma com a outra, criando uma combinação inusitada. pode ser com a base instrumental de uma junto com apenas os vocais de outra, pode ser juntando-se as partes instrumentais das duas, ou juntando trechos de várias músicas ao longo de uma faixa inteira, como faz o girl talk por exemplo. seja lá como for, cria-se uma música nova a partir de outras. não mais de pequenos trechos como no caso do sample, mas de longos trechos ou da música inteira.
um exemplo de mashup que se tornou um clássico do gênero é o do dj allen dean, juntando rapture do blondie com riders on the storm do the doors. é como se a música tivesse sido originalmente composta daquela forma. a base instrumental é do blondie, mas na hora em que debbie harry começaria a cantar quem entra é jim morisson. debbie só entra na parte do rap fazendo a música soar como um dueto entre duas das maiores estrelas da história do rock.
com o impulso da internet o mashup logo saiu do campo estrito da música e invadiu as artes gráficas, o cinema, os quadrinhos e, hoje, praticamente qualquer coisa. videos do youtube são misturados entre si, fotos são fundidas, quadrinhos de um autor como se fossem desenhados por outro, enfim, o limite é dado apenas pela imaginação dos mashupeiros. a idéia por trás da idéia é simples: tudo que existe em matéria de cultura humana pode ser remisturado, rearranjado, reestruturado, reorganizado para criar a partir do que já foi criado. esqueça direitos autorais. na cultura do mashup a arte é propriedade da humanidade e existe para ser transformada. e faz parte do processo dar os devidos créditos do material original utilizado. a graça está justamente em as pessoas saberem o que eram os originais para entender o mashupado. na verdade, quase sempre, o mashup é uma espécie de homenagem aos artistas originais e até agora não ouvi falar de ninguém que tenha ficado rico fazendo mashup. o mashup é oferecido de graça na internet da mesma maneira como foram obtidas as fontes originais, e está lá para ser também usado e transformado. se hoje se diz que é impossível fazer algo realmente novo nas artes, o mashup está aí pra negar e confirmar isso ao mesmo tempo. tudo que é sólido desmancha na rede e tudo que se desmancha se re-solidifica em algo novo. nada se cria, tudo se transforma. lavoisier nunca foi tão atual. viva a cultura do mashup.




































os exemplos de mashups que eu coloquei acima foram tirados do blog trabalho sujo, do alexandre matias, que é um grande divulgador de mashups e tem um excelente texto sobre o assunto.

4 comentários:

  1. putz!! obamis eh bom demais!!! queria fazer uma camisa com isso

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  2. Ae Pedrão, não sabia que eu fazia era mashup, eu sempre digo que sou um dj de images sampleador descarado, hehehe...
    Muito legal esse post.

    Vou postar um Mashup dos meus.

    Abçs

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